terça-feira, 10 de maio de 2016

Passeio por Galápagos

Eu nunca pensei que um dia conheceria Galápagos. Aquele destino estranho, cheio de bichos esquisitos que só existem lá e que inspiraram Darwin a escrever a teoria da evolução era algo tão raro, inalcançável e grandioso como a própria teoria em si. Mas, aproveitando uma estada em Quito, decidi desvendar o curioso mundo estudado por Darwin. E fiquei muito, muito maravilhada. Não dá para passar uma vida sem conhecer Galápagos! É uma viagem fácil, barata, deliciosa e que dá para fazer com ou sem crianças. 

Galápagos é um arquipélago formado por 13 ilhas. Há três ilhas grandes: Santa Cruz, Isabela e São Cristobal. As demais são pequenas. É muito difícil conhecer todas elas em uma só viagem, a não ser que você faça um cruzeiro – mas eles são caríssimos. O que vale mais a pena é escolher duas para ficar permanente e fazer as viagens que forem mais perto a partir delas.

Há duas maneiras de ir a Galápagos: por excursão ou por conta própria. Indico fortemente a segunda. Não só porque custa menos de ¼ (literalmente), mas porque todas as pessoas que encontramos por lá e tinham ido de excursão se arrependeram. Ir a galápagos é muito fácil, não depende de excursão nem de guia. Os passeios são quase todos gratuitos e o transporte, quando necessário, é também facílimo!

Como chegar:
Há voos regulares para Galápagos saindo de Quito ou de Guayaquil (4 por dia, pela Lan/Tam, Avianca e Tame). Eles podem custar 180 dolares, se pesquisar bem e com antecedência (os voos de SP para quito saem perto de 400 dolares). Há dois aeroportos em Galápagos e sua definição impacta no resto da viagem: São Cristobal ou Baltra (este é o mais comum e que usamos).
Descendo em Baltra (ilha onde só tem o aeroporto e nada mais), você tomará um ônibus, da companhia aérea, que te levará a um porto a 10 km de distância. Lá pegará uma balsa e atravessará o mar (só essa vista já vale a viagem!). Demora uns 10 min e custa 0,8 centavos. Daí descerá do outro lado do porto, na ilha de Santa Cruz, onde pegará taxi (18 dolares) ou ônibus (1 dolar) para chegar a Puerto Ayora, a principal cidade do arquipélago e “capital” da ilha de santa cruz. Parece complicado, mas não é! É rápido, fácil e barato e o trajeto já vale muito!!

Onde ficar:
Como disse, você pode pegar um cruzeiro em Puerto Ayora e gastar alguns milhares de dólares para conhecer todas as ilhas. Deve ser lindo. Se não estiver à sua altura, sugiro ficar 3 dias em Puerto Ayora (ilha de Santa Cruz) e mais 2 ou 3 dias na ilha Isabela (a maior do arquipélago e lindíssima!).

Puerto Ayora é uma cidade de pescadores, pequena, com hostals, pequenos hotéis e uns 2 ou 3 hoteis mais luxuosos (dispensáveis). Dá para fazer tudo a pé, inclusive os principais passeios da ilha, ou de barco, saindo do porto no qual também se chega a pé. Os hotéis normais saem entre 30 e 50 dolares o quarto (sem café da manhã), com banheiro privativo e internet. Mas não espere luxo! Isso não combina com galápagos. Isabela tem os mesmos padrões de preço e estadia.

O que fazer:
Estando em Santa Cruz, há um conjunto de passeios que você pode fazer para conhecer os principais lugares, quase todos a pé e gratuitos:
  • ·    Orla: Puerto Ayora é todo organizado em volta da orla do mar, que é feita de pedras, mangues e o mar em si (não há praia de areia aqui). Percorrendo os 2 km de extensão, se passa pelo porto, pelos restaurantes à beira mar e, no caminho, ainda é possível se deparar com lobos marinhos, iguanas e cegonhas que não abrem espaço para nós, pedestres. É na beira mar que estão os restaurantes mais chiques e as lojas de souvenirs. Nenhum deles vale a pena se você quiser economizar.  
  • ·         Estação Charles Darwin: é um parque criado para pesquisas e preservação, além de reprodução de tartarugas e iguanas. É composto pelas áreas de pesquisa, pelo espaço onde as tartarugas ficam protegidas e por algumas pequenas praias paradisíacas. A entrada é gratuita. Fica a 5 minutos a pé da área central. La vale a pena visitar a praia, ver o mar transparente e lindo (cheio de peixes, arraias e caranguejos), visitar as tartarugas gigantes, sua área de reprodução, e algumas iguanas amarelas raras. Também vale a pena ir na praia de pedras onde as iguanas se reproduzem e tomam sol. O passeio dura entre 1 e 2 horas, a depender do tempo de praia. 
  • ·         Tortuga bay: “complexo” de praias maravilhosas que fica ao final da orla, direção contrária da estação Charles Darwin. São 5 minutos a pé para chegar na entrada do parque. Mas de lá serão 30 minutos de caminhada por um bosque muito diferente (caminhada fácil) para chegar à primeira praia, a praia brava, onde é proibido nadar por conta da periculosidade do mar. Mais 15 minutos atravessando a areia (“pulando” iguanas e desviando de cegonhas) e você chegará à praia mansa que é um verdadeiro paraíso. Um piscinão de água transparente, bordeada de mangue e bosque de cactos. Ali há peixes, muitos, de todos os tamanhos possíveis. Pode-se andar 300 metros para dentro da água e ela continua na cintura. Tem aluguel de caiaques para remar entre o mangue. É uma delícia. Dá para passar o dia ou meio período ali.
  • ·         Playa del aleman y las grietas: esse é um passeio que não dá para fazer todo a pé. Demanda pegar um barco-taxi no porto, pagar 1 dolar e atravessar por 5 minutos o mar para chegar do outro lado da costa. Caminhando 10 minutos, chega a playa del aleman. Um lugar calmo, com água completamente transparente, onde há peixes, arraias, muitos pássaros que vem pertinho de você. Água calma, rasa, deliciosa para passar algumas horas. Caminhando mais 15 minutos, você chegará a outro paraíso: las grietas. É um pedaço de mar fechado entre paredões de pedras (como se fosse cânions com água no meio). Água verde, bem profunda mas totalmente transparente. Deslumbrante. Lugar para nadar, mergulhar, pular, brincar. É simplesmente delicioso.
  • ·         Baía tour: é um dos únicos passeios pagos. Custa 25 dolares por 4 horas de barco em lugares imperdíveis, e tem ainda lanchinho e snorkel incluído. O passeio sai do porto Ayora todas as manhãs e tardes e faz um recorrido básico e deslumbrante: primeiro passa perto dos paredões para vermos os pássaros (incluindo o de pata azul); depois vai até a ilha dos lobos marinhos; depois ao canal dos tubarões (sim, eles estão ali aos montes, se digladiando quando o piloto joga todos os chinelos dos turistas – e depois pega um por um); depois vai para uma baía onde fazemos snorkel com dezenas tartarugas gigantes que interagem com você e muitos, muitos peixes (e pode ainda aparecer um tubarão de surpresa); depois uma rápida passeada pela praia dos caranguejos; o tour termina nas grietas, aquelas mesmas que descrevi antes. O piloto é excelente guia e entra com a gente no mar, mostrando os animais, ajudando a interagir com eles, etc.
  • ·         Passeio pela parte alta de puerto ayora: esse é o segundo e último passeio pago em Santa Cruz. Um taxi te leva, por 40 dolares - até 4 pessoas, e ainda te guia pelo passeio. Ele vai para as montanhas de Santa Cruz e faz um recorrido incrível: crateras formadas pela lava, onde se formou um bosque intocado e muito diferente; tuneis vulcânicos por onde andamos (e temos até que nos arrastar no chão em certo trecho); ranchos onde as tartarugas gigantes passam, livres, leves e soltas, 9 meses do ano (os outros 3 ficam à beira mar acasalando e cuidando dos ovos). Passeio lindo, para ver uma natureza que não conhecemos, muito diferente, e ainda tem a vista da praia. Dura 4 horas.
  • ·         Além desses passeios, há vários outros que podem ser comprados para visitar as demais ilhas. Mas, cuidado: a distância mínima entre elas é de 2 horas de barco, numa lancha que balança e faz 100% dos desavisados (que não tomaram dramin) vomitarem. É caro (100 dolares por pessoa) e muito cansativo. Fizemos apenas para Isabela e desistimos das demais - achei que não vale a pena fazer. Mas se você quiser muito conhecer outra ilha e só tiver um dia, vá sozinho, apenas pague o barco (60 dolares). Guias são completamente desnecessários. E tome dramin!!
  • ·         Ilha de Isabela: Depois de 3 dias em Santa Cruz, vale muito a pena pegar um barco para ficar mais 2 ou 3 dias em Isabela, onde se pode fazer snorkel com pinguins de água quente; nadar com tubarões; nadar na cratera de vulcão; caminhadas em vulcões ativos; ver flamingos, etc. Deve ser lindo demais, mas conhecemos muito pouco e me arrependo de não termos dormido lá. Não sei dar dicas de Isabela, mas sei que todos os passeios por lá também são gratuitos e dispensam guia. E que 3 dias é um ótimo tempo para ficar por lá. E lembre-se: tome dramin mesmo se você não for de enjoar muito. Não há sobreviventes, nesse caso!


Curiosidades de Galápagos
Galápagos é um conjunto de ilhas formadas por erupções vulcânicas. Os animais foram chegando aqui por mar, por ar, ou em pequenos pedaços de terra que se desgrudavam do continente. Traziam consigo sementes (no bico ou no intestino), que foram florestando a ilha. Para conseguirem fazer a travessia, os animais tinham que ser muito resistentes para passarem dias no mar sob o sol e sem comida. É por isso que, por terra, praticamente chegaram apenas anfíbios e as iguanas, que conseguiram se adaptar à água do mar. Os animais se espalharam e os mais fortes, adaptados, sobreviveram. O resto é só lembrar do darwin. Até o início da colonização espanhola, não havia em galápagos nenhum mamífero terrestre, nem insetos, nem outros répteis. Foram as embarcações que "introduziram" os ratos, as formigas, as aranhas. Depois vieram gatos, vaca e porcos. Mas não há em várias ilhas de galápagos nenhum cachorro. Não há pombas. não há cabras. Formigas são raras. Não há pernilongos. Há uma mutuca muito inconveniente. Mas não se veem insetos voando. Não há cobras (duas chegaram nu navio há alguns anos e foram mortas na mesma hora). Há uma natureza completamente diferente, habitada por bichos completamente diferentes. Das 3000 espécies presentes nas ilhas, 2000 só existem aqui!
A sensação, constantemente, é de que a natureza domina.  E uma natureza que não conhecemos. E pela falta de conhecimento, nos domina mais ainda. E ela não está nem aí para você. Os bichos simplesmente não se incomodam com nossa presença, não saem do lugar, não fogem. Dizia Darwin que a falta de predadores fez os animais ficarem muito amistosos e não conhecerem o medo. E a sensação é exatamente essa, eles não se abalam com nada nem ninguém. E, pelo menos aqui, o homem toma muito cuidado para que a natureza continue dominando e não tenha medo. A entrada em galápagos é muito controlada. Vários produtos não podem entrar nem com turistas nem serem trazidos do continente.  Você encontrará muito sorvete por lá. Mas não tem chocolate em galápagos. Várias frutas são proibidas em galápagos, para que as sementes não afetem o ambiente. Pêssegos e maracujás são bons exemplos. Eles simplesmente não entram na ilha. Da ilha também não se pode levar nada: nem mesmo um pedaço de pedra encontrado no chão! Tudo é controlado e devolvido.
É proibido fazer xixi no mato. É proibido alimentar os bichos (embora os pássaros ataquem nossas comidas). Há vigilância constante para que não se tirem plantas do lugar nem se toquem os animais (mesmo quando, por vezes, são eles que nos tocam, como as tartarugas marinhas!). 
A água é 100% transparente. Meio fria, meio quente, mas bem agradável. A temperatura ambiente é bem quente. A areia da praia varia: algumas são finas e brancas; outras de conchas que machucam os pés. Tudo é feito de rocha vulcânica, preto, bem bonito.
Em Galápagos há praticamente apenas um tipo de carro: uma Toyota branca cabine dupla. Esse é também o taxi. Eles ficam andando o dia todo de cima pra baixo e te cobram 1 dolar para qualquer trajeto dentro da cidade. Sim, eu disse qualquer trajeto.
Lembre sempre de levar comida e bebida para os passeios. Não existem bares nem restaurantes nas praias. Não existem ambulantes. Não há chuveiros para depois da praia. Em certos lugares, é só você, a natureza e os bichos que dominam o lugar, mais nada nem ninguém. Imagina: praia sem música, sem ambulante, sem bar, sem chuveiro, mas cheia de bichos que ignoram sua presença. Assim é galápagos.

Onde comer:
Há duas opções de refeições em Galapagos: restaurantes chiques, a la carte, à beira mar (cujos pratos partem de 15 dolares) ou os restaurantes populares. Em Santa Cruz há uma rua só com esses restaurantes, chamada de Calle de los Sabores ou Calle de los Kioskos. É uma rua cheia de pequenos restaurantes que vendem a refeição pronta. A maioria dos turistas come ali. Entrada + prato principal + suco = 5 dolares. Entrada é sempre sopa (tradição equatoriana); prato principal é peixe ou frango com arroz, feijão, banana frita e salada; suco natural. O lugar é bem popular, mas acredite, a comida é deliciosa e é o ponto preferido dos turistas e dos habitantes da ilha.
A rua fica lotada desde a manhã (café da manhã dos turistas que não tem café no hotel) até de noite. Pela noite, dezenas de mesas ocupam a rua, que viram um calçadão, e servem frutos do mar escolhidos na hora. Um peixe para duas pessoas com todos os acompanhamentos sai por 13 dolares. Camarões saem 14.

Quanto se gasta:
Equador é um país dolarizado, ou seja, tudo se paga em dólares americanos.
Entrada em galápagos: 70 dolares por adulto (a ser pago no aeroporto na chegada)
Comida: 13-20 dolares por dia por pessoal
Passeios: maioria gratuito. 25 dolares para barco (por pessoa) + 40 dolares para parte alta (por carro, até 4 pessoas) + 60 dolares de transporte de barco para Isabela ou para outras ilhas (por pessoa).
Hotel: 30-50 dolares por dia por quarto
Transporte dentro da ilha: o taxi custa 1 dolar para qualquer trajeto na cidade, o barco taxi também custa 1 dolar.
Cruzeiros ou excursões: as que cotei partiam de 12 mil reais!

Viagem com criança:
Encontramos muitos turistas viajando com crianças - grandes ou de colo. Levei o meu de 4 anos e foi incrível! Ele amou!! As crianças se divertem o tempo todo, interagindo com os bichos, nadando no mar, subindo nas montanhas, vendo aqueles animais estranhos. Dá para fazer todos os programas com crianças (embora a viagem de lancha para outras ilhas seja mais sofrido para elas - aliás, lembrem de dar dramin!!!). Tudo é fácil e acessível e elas se divertem sempre. De todas as viagens que já fiz com meu filho (e foram algumas dezenas), essa foi a mais especial para nós dois!! Eu também estava com meus pais - ambos com mais de 65 anos. E eles curtiram tudo, não se privaram de nada também!

O que levar:
- Roupas de praia e de calor
- Tênis para algumas caminhadas curtas.
- Muito protetor solar e chapéu (lembrem-se que estarão na linha do equador!).
- Canga
- Máquina fotográfica (mas não pode entrar bateria de lítio)

Quem quiser saber mais, veja algumas fotos aqui: https://www.facebook.com/gabriela.lotta/media_set?set=a.1185419058148972.1073741838.100000426680742&type=3